terça-feira, outubro 15, 2013

A luta de classes no centro do enfrentamento com o capitalismo e construção da ruptura que leve ao socialismo!

José Carlos Tisiu: Argumento

-“Olá como vai?
- Eu vou indo e você tudo bem?
-Tudo bem eu vou indo correndo pegar meu lugar no futuro, e você?
- Quem sabe?’’

Por José Carlos Tisiu*
Os versos de Paulinho da Viola alimentaram gerações de militantes, que ousaram com as próprias vidas a enfrentar uma cruel ditadura imposta pelo imperialismo americano e lacaios nacionais.

Um balanço de dez anos dos governos Lula e Dilma em que o PCdoB participa, precisa partir de algumas referências onde estávamos e quais os ventos do norte que ditavam as regras.

A um esforço enorme de várias correntes no campo da história, da sociologia, da filosofia em romper com o materialismo histórico e dialético, sem memória nos perdemos no campo do possível.

A vitória política de 2002 carrega em seu ventre, as profundas mudanças tecnológicas no mundo do trabalho, a queda do muro de Berlim, a derrota programática da frente Brasil popular de 89 á abertura total dos governos Collor e FHC na privatização do Estado brasileiro.

A carta aos brasileiros carrega dentro de si todas as contradições e impasses de uma sociedade secular, autoritária, desigual e que reluta em reconhecer na força de trabalho a força motriz, que ao longo de cinco séculos tem carregando nos ombros o gigante ainda adormecido chamado Brasil.

Portanto uma avaliação deste período não deve trazer dentro de si o estigma da salvação, ou esconder-se na fantasia de uma sociedade irreal, não busca sobrevalorizar nossas virtudes, nem esconder nossas debilidades.

Procurar compreender a realidade concreta com profundidade não é um mero exercício rotineiro, sob o risco de rebaixarmos nossa atuação política.

O tempo é severo com a superficialidade, e duro com aqueles que trazem na alma e no corpo a marca da exploração do capital, o proletariado. Mesmo contrariando as teses daqueles que como Andre Gorz, disse “adeus ao trabalho”.

Numa sociedade onde brotam conceitos e formulações teóricas, a cada momento com o objetivo de negar a luta de classes, é inegável que o Brasil tenha passado por mudanças significativas. Resgatar milhões de brasileiros da miséria e devolver-lhes a possibilidade de se realizarem como cidadãos, ter um olhar de parceria para com a África, América Latina, Oriente Médio, acabar com a vassalagem junto ao imperialismo-americano é fundamental.

Porém e a história sempre tem um, porém - dizia Plínio Marcos.

Um dos aspectos a meu ver de subestimação do governo Lula e Dilma é a luta ideológica e política, o centro do governo e suas alianças cada vez mais caminha por estradas não programáticas, refém de bancadas conservadoras e reacionárias, de todo autoritarismo da mídia, do judiciário, do mercado financeiro, etc. Na disputa política não basta alimentar as necessidades justas do corpo fragilizado, é preciso alimentar também a alma, forjar consciências e construir um campo cujas convicções aprofundem as mudanças estruturais que o Brasil necessita.

Dois séculos depois não podemos e não devemos dar razão à dona Maria I “a louca”, que a nosso destino é ser um grande produtor de produtos de baixo valor agregado.

Os avanços na busca por uma sociedade justa, não se dará por concessões de uma burguesia querendo alcançar o reino dos céus, quatro séculos de trabalho escravo nos ensina, a algema só se romperá com a força dos oprimidos.

O PCdoB só terá força com uma forte identidade de classe, um vínculo profundo com o Estado nacional, defensor intransigente de nossa cultura, soberania, miscigenação, de um Estado laico e da solidariedade internacional.

Por fim é preciso edificar uma política de quadros, que tenha como objetivos nos enraizarmos nas grandes empresas estatais e privadas, nos centros científicos e tecnológicos.

Não basta a indignação por não termos eleito grandes quadros nas capitais, precisamos ficar atentos e buscar respostas sobre o crescente distanciamento e derrotas junto a várias categorias sindicais. A consequência é o aumento de nossa fragilidade nas batalhas eleitorais.

Estamos sendo empurrados para fora dos segmentos organizados, passamos a disputar o voto dos despolitizados, em campanhas de tiros curtos e de conteúdo político rebaixado.

Num cenário de três dezenas de legendas, o recurso fundamental passa a ser o capital, não pode e não devem existir contradições entre as frentes de atuação de um Partido que tem como objetivo construir uma nova hegemonia na sociedade brasileira.

Nossos mandatos precisam ser instrumentos coletivos desta construção, o Partido também não pode ser uma loja de departamentos, onde o específico é mais importante que o todo.

As coisas estão no mundo minha nega, só que é preciso aprender” Segue Paulinho cantando...

*Jose Carlos Tisiu é Membro do comitê Municipal do PCdoB Paulistano- SP

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