sexta-feira, dezembro 27, 2013

HILDEGARD ANGEL: A GENTE NUNCA PERDE POR SER LEGÍTIMO!!



A gente nunca perde por ser legítimo, mas quem conta a história são os vencedores, não esqueçam. O fascismo se expande hoje nas mídias sociais, forte e feioso como um espinheiro contorcido, que vai se estendendo, engrossando o tronco, ampliando os ramos, envolvendo incautos, os jovens principalmente, e sufocando os argumentos que surgem, com seu modo truculento de ser.

Por Hildegard Angel*


Para isso, utiliza-se de falsas informações, distorções de fatos, episódios, números e estatísticas, da história recente e da remota, sem o menor pudor ou comprometimento com a verdade, a não ser com seu compromisso de dar conta de um Projeto.

Sim, um Projeto moldado na mesma forma que produziu 1964, que, os minimamente informados sabem, foi fruto de um bem urdido plano, levando uma fatia da população brasileira, a crédula classe média, a um processo de coletiva histeria, de programado pânico, no receio de que o país fosse invadido por malvados de um fictício Exército Vermelho, que lhes tomaria os bens e as casas, mataria suas criancinhas, lhes tiraria a liberdade de ir, vir e até a de escolher.

Assim, a chamada elite, que na época formava opinião sobre a classe média mais baixa e mantinha um “cabresto de opinião” sobre seus assalariados, foi às ruas com as marchas católicas engrossadas pelos seus serviçais ao lado das bem intencionadas madames.

Elas mais tarde muito se arrependeram, ao constatar o quanto contribuíram para mergulhar o país nos horrores de maldades medievais.

Agora, os mesmos coroados, arquitetos de tudo aquilo, reescrevem aquele conto de horror a seu jeito, fazendo do mocinho bandido e do bandido mocinho, pois a História, meus amores, é contada pelos vencedores. E eles venceram. Eles sempre vencem.

Sim, leitores, compreendo quando me chamam de “esquerdista retardatária” ou coisa parecida. Esse meu impulso, certamente tardio, eu até diria sabiamente tardio, preservou-me a vida para hoje falar, quando tantos agora se calam; para agir e atuar pela campanha de Dilma, nos primórdios do primeiro turno, quando todos se escondiam, desviavam os olhos, eram reticentes, não declaravam votos, não atendiam aos telefonemas, não aceitavam convites.

Essa minha coragem, como alguns denominam, de apoiar José Dirceu, que de fato sequer meu amigo era, e de me aprofundar nos meandros da AP 470, a ponto de concluir que não se trata de “mensalão”, conforme a mídia a rotula, mas de “mentirão – royalties para mim, em pronunciamento na ABI – eu, a tímida, medrosa, reticente “Hildezinha”, ousando pronunciamentos na ABI! O que terá dado nela? O que terá se operado em mim?

Esse extemporâneo destemor teve uma irrefreável motivação: o medo maior do que o meu medo. Medo da Sombra de 64. Pânico superior àquele que me congelou durante uma década ou mais, que paralisou meu pensamento, bloqueou minha percepção, a inteligência até, cegou qualquer possibilidade de reação, em nome talvez de não deixar sequer uma fresta, passagem mínima de oxigênio que fosse à minha consciência, pois me custaria tal dor na alma, tal desespero, tamanhas infelicidade, noção de impotência absoluta e desesperança, ao encarar a face verdadeira da humanidade, o rosto real daqueles que aprendi a amar, a confiar, que certamente sucumbiria…

Não, eu não suportaria respirar o mesmo ar, este ar não poderia invadir os meus pulmões, bombear o meu coração, chegar ao meu cérebro. Eu não sobreviveria à dor de constatar que não era nada daquilo que sempre me foi dito pelos meus, minha família, que desde sempre me foi ensinado: o princípio e mandamento de que a gente pode, com o bem, neutralizar o mal. Eu acreditava tão intensa e ingenuamente no encanto da bondade, que seguia sobre a nojeira como se flutuasse, sem percebê-la, sem pisar nela, como se caminhasse sobre flores.

As pessoas se admiravam: “Como a Hilde, que tanto sofreu, não guarda rancores e mágoas no seu coração?”.

E aí, passadas as tragédias, vividas e sentidas todas elas em nossas carnes, histórias e mentes, porém não esquecidas; viradas as páginas, amenizado o tempo… deu-se então o início daquela operação midiática monumental, desproporcional, como se tanques de guerra, uma infantaria inteira, bateria de canhões, frotas aérea e marítima combatessem um único mortal -  José Dirceu – tentando destrui-lo. Foi quando percebi, apreensiva, esgueirar-se sobre a nossa tão suada democracia a Sombra de 64!

Era o início do Projeto tramado para desqualificar a luta heroica daqueles jovens martirizados, trucidados e mortos por Eles, o establishment sem nomes e sem rostos, que lastreou a Ditadura, cuja conta os militares pagaram sozinhos. Mas eles não estiveram sozinhos.

Isso não podia ser, não fazia sentido assistir a esse massacre impassível. Decidi apoiar José Dirceu. Fiz um jantar para ele em casa. Chamei pessoas importantes, algumas que pouco conhecia. 

Cientistas políticos, jornalistas de Brasília, homens da esquerda, do centro, petistas, companheiros de Stuart do MR8, religiosos, artistas engajados. Muitos vieram, muitos declinaram. Foi uma reunião importante. A primeira em torno dele, uma das raras. Porém não a única. E disso muito me orgulho.
Um colunista amigo, muito importante, estupefato talvez com minha “audácia” (ou, quem sabe, penalizado), teve o cuidado de me telefonar na véspera, perguntando-me gentilmente se eu não me incomodava de ele publicar no jornal que eu faria o jantar. “Ao contrário – eu disse – faço questão”.
Ele sabia que, a partir daquele momento, eu estaria atravessando o meu Rubicão. Teria um preço a pagar por isso.

Lembrei-me de uma frase de minha mãe: “A gente nunca perde por ser legítima”. Ela se referia à moda que praticava. Adaptei-a à minha vida.

No início da campanha eleitoral Serra x Dilma, ao ler aqueles sórdidos emails baixaria que invadiam minha caixa, percebi com maior intensidade a Sombra de 64 se adensando sobre nosso país.
Rapidamente a Sombra ganhou corpo, se alastrou e, com eficiência, ampliou-se nestes anos, alcançando seu auge neste 2013, instaurando no país o clima inquisitorial daquela época passada, com jovens e velhos fundamentalistas assombrando o Facebook e o Twitter. Revivals da TFP, inspirando Ku Klux Klan, macartismo e todas as variações de fanatismo de direita.

É o Projeto do Mal de 64 de novo ganhando corpo. O mesmo espinheiro das florestas de rainhas más, que enclausuram príncipes, princesas, duendes, robin hoods, elfos e anõezinhos.

Para alguns, imagens toscas de contos de fadas. Para mim, que vi meu pai americano sustentar orfanato de crianças brasileiras produzindo anõezinhos de Branca de Neve de jardim, e depois uma Bruxa Má, a Ditadura, vir e levar para sempre o nosso príncipe encantado, torturando-o em espinheiros e jamais devolvendo seu corpo esfolado, abandonado em paradeiro não sabido, trata-se de um conto trágico, eternamente real.

Como disse minha mãe, e escreveu a lápis em carta que entregou a Chico Buarque às vésperas de ser assassinada: “Estejam certos de que não estou vendo fantasmas”.
Feliz Ano Novo.

Inclusive para aqueles injustamente enclausurados e cujas penas não estão sendo cumpridas de acordo com as sentenças.
É o que desejo do fundo de meu coração.


* Hildegard Angel é jornalista. Filha da estilista Zuzu Angel e irmã do ex-militante político Stuart Angel Jones – ambos mortos durante a ditadura militar brasileira



segunda-feira, dezembro 23, 2013

Boas Festas, ótimo Ano Novo!!



Aos meus amigos e amigas, camaradas e companheiros!!

Desejo a todos um Feliz Natal, Boas Festas e comemorações e um Ano Novo repleto de saude, Paz, felicidades e forças para encarar os desafios do próximo e dos anos que virão!
Baita abraço afetuoso a todos(as)!

sábado, dezembro 21, 2013

Artigo de Roberto Amaral para as esquerdas pensarem!!

As esquerdas e a pauta conservadora

Acovardadas, nossas esquerdas permitem que a direita estabeleça a pauta nacional: ‘mensalão’, redução da menoridade penal, violência, fracasso da política...
por Roberto Amaral — 
“...e quando finalmente a esquerda chegou ao governo tinha perdido a batalha das ideias”.
Perry Anderson
A frase de Perry Anderson (editor da New Left Review),   tomei-a de um texto de Emir Sader (‘Neoliberalismo xposneoliberalisno na America Latina’), referia-se à França – à pobre França do Partido Socialista de François Hollande— mas poderia referir-se à Espanha (a pobre Espanha do Partido Socialista Operário Espanhol), ou à Itália na qual a preeminência política do  Partido Comunista Italiano, o PCI de Gramsci e Togliatti – ‘o maior partido do Ocidente’ – foi substituída pela era Berlusconi, o grotesco.  Mas, e é o que nos interessa, a observação se aplica igualmente ao Brasil de hoje, após a queda da ditadura (1984) e a derrota eleitoral do neoliberalismo conservador (2002/2006/2010), derrota a qual, todavia,  não se propagou para o campo da política.
Ao contrário, e apesar do agravante constituído pela tragédia europeia, é a visão neoliberal, reiteradamente desmentida pela realidade, que domina o debate, o noticiário e até mesmo ações de governo.
Em pleno 2013, a tese do candidato das oposições é retomar as privatizações de FHC. Qual é, agora, o objeto da sanha, se pouco nos sobrou: a Petrobras? O Banco do Brasil? A Caixa Econômica?
Nosso atraso ideológico vai beber água nas circunstâncias em que se deu a redemocratização.
Refiro-me ao fato de a ditadura haver conseguido transformar a ruptura necessária em transação negociada, assumindo o papel de sujeito do processo, e assim contendo em suas rédeas a transição ‘lenta e gradual’, nos termos da equação do general Geisel, que compreendeu uma reforma política reacionária, que sobreviveu à própria Constituinte em dois aspectos essenciais: a ampliação das bancadas que representam os estados menos populosos, distorcendo mais ainda o princípio democrático que estabelece que a cada cidadão deve corresponder um voto, e a obrigatoriedade de remunerar os vereadores, transformando-os nos indivíduos mais bem remunerados na maior parte dos municípios do País.
Aquela reforma teve como fruto perene a entronização do ‘baixo clero’ como principal bancada da Câmara dos Deputados, permeando todas as legendas nela representadas. Até aqui.
A sociedade resistiu durante 20 anos à ditadura, o movimento das ‘diretas-já’ --verdadeiro não plebiscitário à ditadura-- terminou por implodir o Colégio eleitoral e derrotar o candidato do regime, mas os termos da ‘transição’ foram concertados entre generais e políticos autoimitidos no mandato de delegados da sociedade brasileira.  O povo, em nome do qual tudo foi feito, teve de contentar-se com o papel que lhe reserva sempre uma História comandada pelos interesses da classe dominante: a plateia.
Por tramas do processo histórico, a esquerda não teve condições de conduzir o debate, e esse, paulatinamente, é dominado pelo pensamento neoliberal, ao qual aderem, primeiro, setores liberais que vinham da luta contra a ditadura, em seguida setores atrasados da própria esquerda, uns interessados em ocupar espaços na nova nomenclatura, outros, assustados com os ventos que sopravam do Leste, a partir da Queda do Muro de Berlim.
O Ocidente acenava com as vitórias de Thatcher, Reagan e, a seguir, Tony Blair. A desmontagem dos Partidos Comunistas em quase todo o mundo, e no Brasil a implosão do Partido Comunista Brasileiro (o ‘Partidão’) a que se seguiu a contrafação do PPS, foram um elemento a mais no arrefecimento da reflexão marxista.
Estavam criadas as condições propícias à ditadura do pensamento único. O imperialismo, dominante na política, dominante a cultura, na língua internacional, na linguagem tecnológica, na literatura, no cinema, na televisão, na globalização do american way of life, dominante do pensar, domina principalmente onde não precisa da força de suas tropas. Dominava e domina no plano ideológico, dominando corações e mentes.
Entre nós, de um lado a crise do movimento sindical e a astenia da Academia; de outro, o monopólio da informação e da opinião, professada por uma imprensa monopolizada ideologicamente.  Todos os jornais, reproduzindo as mesmas opiniões, se julgam ‘algo mais que um jornal’. O reacionarismo, o antinacional e o antipopular, o primitivo, o antidesenvolvimentismo, a superveniência do que vem de fora, a alienação, a superstição, o atraso, o não-Brasil são a característica ideológica de uma imprensa militante, hoje o principal partido político brasileiro.
Falo da televisão, do rádio e da imprensa escrita.
Falo de sua programação, de seu conteúdo, não apenas da desinformação dos noticiosos.
Não avanço o sinal mesmo quando afirmo que a grande imprensa brasileira é racista e de direita, à direita mesmo do empresariado nacional.
As palavras são do mais conspícuo representante do pensamento autoritário conservador brasileiro, o ministro Joaquim Barbosa, em recente conferencia na Costa Rica. Some-se a tudo isso a aliança entre a falsa fé religiosa (explorada mercantilmente no nível do charlatanismo) e a política partidária, uma se servindo da outra e ambas, a fé politizada e a política explorando a fé, alienando a população que subjuga ideologicamente para melhor explorar, construindo impérios econômicos e midiáticos e partidos políticos que vão disputar as entranhas do poder.
E as esquerdas, e os governos progressistas, como o avestruz da fábula que enterra a cabeça para não ver o perigo, fazem de conta de que nada veem, a se dizerem, empolgados por algumas vitórias eleitorais, que essa imprensa ‘não faz mais opinião’.
Não quero suprimi-la, nem mesmo diminuir sua força. Reclamo, apenas, o contraditório.
Mas essa imprensa é a única opinião a trafegar e é por seu intermédio que até os militantes dos partidos de esquerda se informam e muitos se formam.  E eis como muitos setores da esquerda brasileira passam a incorporar valores da direita e a reproduzi-los, pensando em posar de ‘moderna’. Em nome da governabilidade, nossos governos são obrigados a compor com a direita, pois só caminhando à direita é que a esquerda soma votos.
E, por essas artes, entramos todos a falar em choque de gestão, em lucratividade (sim, até a previdência social deve dar lucro!), em ‘métodos científicos’ de administração, em eficiência do setor privado, em despolitização da administração pública, em gigantismo do Estado, em excesso fiscal, em baixar a maioridade legal para 16 anos, em mais jovens negros e pobres na cadeia a título de política de segurança.
Quem dorme com morcego acorda de cabeça para baixo, diz o povo.
Os partidos de esquerda fogem do debate ideológico, ensarilham suas teses, saem de campo, tudo em nome da conciliação.
Os Programas e Manifestos são reservados para as dissertações de mestrado. Nada de confronto, nada de enfrentamento, como se a paralisia pudesse ser instrumento de avanço, e assim terminam reforçando o statu quo. Qual seu papel pedagógico e doutrinário no Congresso, nas Assembleias e nos governos?
Silentes, acovardadas nossas esquerdas permitem que a direita, sucessivamente derrotada nas urnas, estabeleça a pauta nacional, e nela nos enredamos: ‘mensalão’, redução da menoridade penal, violência, fracasso da política, fracasso dos políticos... o eufemismo de ‘fracasso da democracia’.
No governo e fora dele, os partidos socialistas não falam mais em socialismo, governo e partidos de esquerda passam a operar a ‘conciliação de classes’ com a qual acenam para a grande imprensa e o sistema financeiro. Nos sindicatos, a ‘política de resultados’ substitui a luta política ideológica. O somatório de tudo isso – e assim se descortina o cenário da emergência do pensamento de direita – é uma Justiça reacionária e um Supremo afoito, tentando judicializar a política, e, ao arrepio da Constituição, assumindo funções legislativas, ademais de condicionar a vida interna de um Congresso acuado.
O próprio presidente do STF, de novo o inefável ministro Barbosa, aliás de forma coerente, agride a vida congressual e os partidos, sem os quais não haverá democracia alguma em nosso país. E sabe disso. E por saber é que fala essas coisas. Cumpre, assim, a tarefa que lhe cabe nesse festival de agressões ao processo democrático: embala os sonhos de uma classe média reacionária em busca de um novo redentor.
O debate das eleições de 2010, lamentavelmente ditado pela direita, concentrou-se, num primarismo digno da TFP, num sim e num não ao aborto. Qual a nossa proposta de debate para 2014?

sexta-feira, dezembro 20, 2013

Leonardo Boff em artigo fala do anticomunismo tupiniquim!

  • Teólogo da Libertação Leonardo Boff: Contra a imbecilidade do atual anticomunismo

    Leonardo, que assumiu decidido a defesa do atual papa Francisco, publicou um lúcido artigo no qual realiza a demolição de mitos & mentiras propagados pela direita no mundo, partindo de uma provocação anticomunista dirigida ao próprio pontífice. Nele, afirma: "A ascensão irracional do anticomunismo mais obtuso e retrógrado, em todo o mundo — no Brasil, particularmente, está ficando chique ser de extrema direita — baseia-se em manipulação canalha, com que se tenta, por todos os meios, inverter e distorcer a história, a ponto de se estar criando uma absurda realidade paralela". O artigo é um autêntico "banho" na suja e sórdida cultura anticomunista. É o que se pode chamar de esclarecido "lucro" intelectual:

    Habemus Papam

    Leonardo Boff

    Acusado por um conservador norte-americano de ser marxista, Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, negou sê-lo, mas disse que não se sentia ofendido, por ter conhecido ao longo de sua vida muitos marxistas que eram boas pessoas.
    A declaração do papa, evitando atacar ou demonizar os marxistas, e atribuindo-lhes a condição de comuns mortais, com direito a ter sua visão de mundo e a defendê-la, é extremamente importante, no momento que estamos vivendo agora.

    A ascensão irracional do anticomunismo mais obtuso e retrógrado, em todo o mundo — no Brasil, particularmente, está ficando chique ser de extrema direita — baseia-se em manipulação canalha, com que se tenta, por todos os meios, inverter e distorcer a história, a ponto de se estar criando uma absurda realidade paralela.

    Estabelecem-se, financiados com dinheiro da direita fundamentalista, “museus do comunismo”; surgem por todo mundo, como nos piores tempos da Guerra Fria, redes de organizações anticomunistas, com a desculpa de se defender a democracia; atribuem-se, alucinadamente, de forma absolutamente fantasiosa, 100 milhões de mortos ao comunismo.

    Busca-se associar, até do ponto de vista iconográfico, o marxismo ao nacional-socialismo, quando, se não fossem a Batalha de Stalingrado, em que os alemães e seus aliados perderam 850 mil homens, e a Batalha de Berlim, vencidas pelas tropas do Exército Vermelho — que cercaram e ocuparam a capital alemã e obrigaram Hitler a se matar, como um rato, em seu covil — a Alemanha nazista teria tido tempo de desenvolver sua própria bomba atômica e não teria sido derrotada.

    Quem compara o socialismo ao nazismo, por uma questão de semântica, se esquece de que, sem a heroica resistência, o complexo industrial-militar, e o sacrifício dos povos da União Soviética — que perdeu na Segunda Guerra Mundial 30 milhões de habitantes — boa parte dos anticomunistas de hoje, incluídos católicos não arianos e sionistas, teriam virado sabão nas câmaras de gás e nos fornos crematórios de Auschwitz, Birkenau e outros campos de extermínio.
    Espalha-se, na internet — e um monte de beócios, uns por ingenuidade, outros por falta de caráter mesmo, ajudam a divulgar isso — que o Golpe Militar de 1964 — apoiado e financiado por uma nação estrangeira, os Estados Unidos — foi uma contrarrevolução preventiva. O país era governado por um rico proprietário rural, João Goulart, que nunca foi comunista. Vivia-se em plena democracia, com imprensa livre e todas as garantias do Estado de Direito, e o povo preparava-se para reeleger Juscelino Kubitscheck presidente da República em 1965.

    1964 foi uma aliança de oportunistas. Civis que há anos almejavam chegar à Presidência da República e não tinham votos para isso, segmentos conservadores que estavam alijados dos negócios do governo e oficiais — não todos, graças a Deus — golpistas que odiavam a democracia e não admitiam viver em um país livre.

    Em um mundo em que há nações, como o Brasil, em que padres fascistas pregam abertamente, na internet e fora dela, o culto ao ódio, e a mentira da excomunhão automática de comunistas, as declarações do papa Francisco, lembrando que os marxistas são pessoas normais, como quaisquer outras — e não são os monstros apresentados pela extrema-direita fundamentalista e revisionista sob a farsa do “marxismo cultural” — representam um apelo à razão e um alento.

    Depois de anos dominada pelo conservadorismo, podemos dizer, pelo menos até agora, que Habemus Papam, com a clareza da fumaça branca saindo, na Praça de São Pedro, em dia de conclave, das veneráveis chaminés do Vaticano.

    Um Papa maiúsculo, preparado para fortalecer a Igreja, com o equilíbrio e o exemplo do Evangelho, e a inteligência, o sorriso, a determinação e a energia de um Pastor que merece ser amado e admirado pelo seu rebanho.

Re"I"ginaldo Rossi se foi. Mas deixou seu legado para sempre!!


Morreu Reginaldo Rossi(ou REIginaldo). Um ídolo dos amantes da musica brega/romantica desde a década de 1960. Foi um dos integrantes da "Jovem Guarda', depois se radicou mais no  Nordeste, onde durante mais de 40 anos foi sucesso inconteste. Ùltimamnte voltou a "brilhar" em todo o Brasil por causa da musica "Garçon".
Além de um musico e cantor inventivo, era uma figura humana da melhor qualidade, generoso, progressista, bem humorado,  enfim, um ser humano que fara falta no cenário musical e humanistico nacional. Eu, Marcos Tenório, Elias e muitos outros amigos erámos seus fãs e admiradores. Mas seu legado artistico permanecerá entre nós para sempre!!!
 

Confraternização e companhia agradável!!


Nesta quinta feira no almoço de confraternização da CTB(Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), fui convidado pelo meu amigo e Camarada Carlos Umberto Martins e pela diretoria da entidade. E acabei indo com a amiga e camarada, grande atriz e militante, Alexandra Cavagna(na foto comigo). Grande prazer me deu sua companhia ao lados de meus camaradas de lutas e vida. Almoço lauto e generoso no "Boi Preto", na Marginal do Tiête, perto do Canindé. Lugar prazeiroso, mas localizado num ponto da cidade complicado por causa do trânsito!!

domingo, dezembro 15, 2013

Viver o Amor!


Minha gente amiga!!
Não consigo  compreender e aceitar como certas pessoas, mulheres especiais até, decidem numa quadra  da vida, a renunciar ao amor, a paixão e ao sexo. Alegam idade, desencantos, sofrimento com amores e vidas mal resolvidas. Algumas culpam homens(como homens  culpam mulheres) que passaram por sua vida,outras apenas desencanto e até mesmo terem ficado assexuadas!
Mas não perdem o carinho e  apego a vida!
Se são  saudáveis, como os homens, podem viver ou reviver paixões, amar de novo, curtir as delicias do sexo, enfim,viver plenamente!
Devem deixar de temer o viver, a entrega, o amor e a paixão. As vezes elas podem ressurgir avassalaoras e transformar suas vidas num mar de alegriia e satisfações!
Torço por isto e não renuncio nunca ao amor, a paixão e ao sexo e ao viver plenamente e torço para que todos, tenham a idade que tiverem, que se aventurem na vida! Ela pode ser completa, complexa e bela!!!

segunda-feira, dezembro 09, 2013

sábado, dezembro 07, 2013

MANDELA; DO ANTICOMUNISMO À ADESÃO AO MARXISMO!!!


Legenda: Mandela com o dirigente do PCdoB, Vital Nolasco, em 1991


Em sua autobiografia, “Longo caminho para a liberdade”, Nelson Mandela conta de sua

oposição aos comunistas e ao Partido Comunista da África do Sul; de sua convivência e, depois,

amizade com militantes do PC e de como isso o levou a estudar os fundadores do socialismo

científico e à adesão aos seus ideais. Num momento em que se ergue uma unanimidade em

torno do seu nome, descaracterizando, muitas vezes, seu pensamento, vale verificar esse

depoimento desse que foi um dos grandes revolucionários surgidos no século passado.

Em 1947, aos 29 anos, Mandela era dirigente da Liga da Juventude, uma das organizações

que, com o Partido Comunista e outras, formava o Congresso Nacional Africano (CNA). Na

Conferência Nacional do CNA, ocorrida nesse ano, a Liga apresentou uma moção uma moção

exigindo a expulsão dos militantes do PC da organização. “Minha preocupação era que a

intenção dos comunistas fosse apossar-se de nosso movimento usando o disfarce da ação

conjunta. Eu achava que o que nos poderia libertar seria um nacionalismo africano não diluído

e não um marxismo e nem um multirracialismo. Com alguns colegas da liga, cheguei ao ponto

de interromper reuniões do Partido Comunista invadindo o palco, arrancando cartazes e me

apossando do microfone,” relata.

Em 1950, opôs-se à realização de um dia de greve, no 1º de Maio, o Dia da Liberdade,

aprovado pela Convenção de Defesa da Liberdade de Expressão, porque a proposta partiu

do PC e ele achou “que os comunistas estavam tentando tirar a força do Dia Nacional de

Protesto do CNA”. Desta vez, Mandela teve êxito e a greve aconteceu sem o apoio do CNA.

“Mais de dois terços dos trabalhadores africanos ficaram em casa durante a greve de um

dia”, lembra. Dezoito africanos foram mortos e muitos ficaram feridos num ataque realizado

pela polícia a manifestantes que apoiavam a greve. Poucas semanas depois, o governo

tornou ilegal o Partido Comunista. Mandela conta que ouviu de um dirigente do CNA “estas

palavras proféticas: ‘Hoje é o Partido Comunista. Amanhã serão os nossos sindicatos, o nosso

Congresso Indiano, o nosso Congresso Nacional Africano”.

Em resposta a esses acontecimentos, o CNA resolveu promover, em 26 de junho de 1950, um

Dia Nacional de Protesto, juntamente com o PC e outras organizações. “Naquele tempo eu

tinha mais certeza das coisas às quais eu me opunha do que das coisas que apoiava. Minha

oposição ao comunismo vinha de muito tempo, mas estava se desfazendo”. Moses Kotane,

secretário-geral do PC, perguntou-lhe: “O que você tem contra nós, Nelson? Nós todos

estamos lutando contra o mesmo inimigo. Não estamos querendo dominar o CNA; estamos

trabalhando no contexto do nacionalismo africano”. Relacionando-se com vários comunistas,

“e por observar seus sacrifícios, achava cada vez mais difícil justificar meu preconceito contra o

Partido”.

Mandela resolveu conhecer melhor o marxismo, pois, nas discussões políticas com os amigos

“via-me sempre prejudicado por minha ignorância da filosofia marxista”. Comprou as obras

de Marx e Engels, Lênin, Stálin e Mao Zedong “e comecei a sondar a filosofia do materialismo

dialético e histórico. (...) Eu concordava com a frase básica de Marx, que tinha simplicidade e

a generosidade da Regra de Ouro: ‘De cada um conforme a capacidade; a cada um conforme a

necessidade’”.

Tudo mudou: “O materialismo dialético me ajudou a ver a situação de outra maneira que

não pelo prisma das relações entre negros e brancos, pois se quiséssemos que nossa luta

tivesse êxito, precisaríamos transcender as cores. Fui atraído para as bases científicas do

materialismo dialético, pois estou sempre inclinado a confiar no que posso verificar. (...) O

apelo do marxismo à ação revolucionária era música para os ouvidos de um combatente pela

liberdade. A ideia de que a história progride por meio de lutas e que as mudanças ocorrem

em saltos revolucionários também era muito sedutora. Em minha leitura das obras de Marx

encontrei uma grande quantidade de informações relacionadas ao tipo de problemas que um

político prático encontra”.

 “Certa vez um amigo me perguntou como eu podia conciliar meus princípios de nacionalista

africano com uma crença no materialismo dialético. Para mim, não havia nenhuma

contradição. Eu era primeiro e acima de tudo um nacionalista africano em luta por nossa

emancipação de um governo minoritário e pelo direito de controlar nosso próprio destino.

No entanto, ao mesmo tempo a África do Sul e o continente africano faziam parte de um

mundo maior. Nossos problemas eram diferentes e especiais, mas não eram completamente

exclusivos e só podia ser válida uma filosofia que colocava esses problemas no contexto

internacional e histórico do mundo como um todo e do processo histórico”, escreve Mandela,

para concluir: “Verifiquei que os nacionalistas africanos e os comunistas africanos geralmente

tinham muito mais elementos os unido que os separando. Os cínicos sempre sugeriam que os

comunistas estavam nos usando. Mas quem poderá dizer que nós não estávamos usando os

comunistas?”.

Pouca gente lembra, mas Mandela é cidadão paulista. O título foi dado pelo então deputado

Vital Nolasco, do PCdoB, e ele foi à Assembleia Legislativa de São Paulo para recebê-lo, em 2

de agosto de 1991.

quinta-feira, novembro 28, 2013

Exitosa e prazeirosa viagem a Cuba!!





Meus amigos e camaradas!!

Passei os ultimos 11 dias em Cuba. Fui para uma atividade politica de protesto contra a presença da Base Militar/Prisão de Guântanamo em território cubano e fazer exames e consultas no centro Neurológico Cira Garcia em  Havana, um   dos melhores centros de excelencia em saude do Mundo.
Por problemas de agenda da atividade politica, organizada por  várias entidades, entre eles o Cebrapaz/DF(representado por Marcos Tenório) , Conselho Mundial da Paz e outros,  acabei não indo a Guantânamo. Priorizei meus  exames e fiquei em Havana e fui ainda a Varadero, uma das praias mas bonitas e paradisíacas do Caribe.

Em Havana andei muito  com meu companheiro de viagem, advogado e amigo Victor Mendonça Neiva( que me deu o maior apoio, me ajudando e levando aos lugares onde tinha que ir, inclusive na clinica). Fomos a "Bodeguita do Meio", "Floridita"-lugares onde frequentava o escritor Ernest Heminguay e restaurantes de Havana Vieja, onde  comemos muitos  frutos do mar e cuidamos de ir tambem a "Casa de Musica" em Miramar, onnde curtimos o melhor da musica cubana atual.

Aliás, por  toda Havana e Cuba, se transpira musica, sensualidade,solidariedade e alegria. 

Depois da chegada de Marcos Tenório das atividade de Guantânamo, fomos dar um "tour" por Havana Vieja e lugares históricos da cidade e monumentos em homenagem  a Revolução. Uma viagem insesquecível, onde pude reforçar meus espirito revolucionario e crença no socialismo. Por Havana e por onde passamos, não vimos miséria nem presença ostensiva de policia ou forças de segurança.  Se anda com tranquilidade pelas ruas das cidades. O povo sabe que o País é pobre e luta para se desenvolver e que o Bloqueio  americano e das forças reacionarios, impedem que tenham uma vida melhor,mas estão cientes que as coisas mudam para melhor em Cuba e vão superar as dificuldades com a solidariedade dos países e povos solidarios e os revolucionarios do Mundo todo. Respeitam demais o Partido Comunistas e seus lideres. Confiam que vão vencer as dificuldades em pouco tempo e melhorar a vida do povo. Que hoje já tem um dos melhores sistemas educacionais e de saude  do Mundo e onde não há fome, nem violencia!

Enfim, a viagem foi proveitosa e agradavel. Em março do ano  que  vem devo voltar lá e fiicar por mais tempo. Para curtir Cuba e continuar meu tratamento de saude!

Tratamento!!

Na Clinica Neurológica Cira Garcia, fui recebido por um médico décano, Dr.Armando Gomez, que me examinou, viu meus  últimos  exames do SARAH de Brasilia. Fez testes de sensibilidade e força muscular e movimentação  do sistema nervoso. Falei da origem da doença"Meliopatia Cervical Compressiva", expliquei-lhe todo o processo de desenvolvimento dela, como fiquei praticamente todo paralizado(inclusive nos órgãos internos),da cirurgia que liberou minhas vértebras que comprimiam a medula e minha lenta recuperação. Mostrei-lhe minhas dificuldades de movimentação e equilibrio, além da atrofia das mãos e o processo de gradativa perda de massa e força muscular.

Dr. Armando me garantiu que há possibilidade de recuperação quase ou mesmo total de minha capacidade motora e de movimentação. Me prescreveu medicação para o sistema nervoso central e injeções de complexos vitaminicos que vão me permitir recuperar massa  e força muscular e recomendou, para depois de um tempo de tratamento, voltar a fazer fisioterapia para sedimentar as melhoras. As injeções devo tomar duas ampolas semanais por tres meses. Vou sentir ostensiva melhora, segundo ele. Depois, em março, quando  acabar este tratamento, devo voltar a Havana e a Clinica, onde ele pretende fazer uma  ressonância e ver o estado geral  de minha medula e vértebras e ver o que mais ele recomendara fazer. Ai devo ficar mais algum tempo para exames mais detalhados e fazer um tratamento  com a supervisão  deles por algum tempo.

Voltei animadíssimo com a possibilidade de recuperar minhas condições de movimentação, ter um fim nas atrofias. Vou cumprir  todas suas recomendações e ministrar os medicamentos corretamente. Agora é tocar a vida e fazer o tratamento confiante em seu êxito!

Queria agradecer de publico o empenho  do Rafael Hidalgo, da Embaixada de Cuba em  Brasilia, que tudo fez e mobilizou do Partido Comunista Cubano a autoridades do Estado  cubano, para viabilizar a consulta na clinica e os exames e a futura continuidade do tratamento. E Tambem a Cristiane Silva, da Sanchatour que fez todos os trâmites para que tudo desse certo e agendou as consultas e hospedagem e passagens. E ao PCdoB nas pessoas de José Reinaldo, Renato Rabelo e Ricardo "Alemão" Abreu e sua assessora Tânia que se mobilizaram para que tudo  desse certo.

E fundamentalmente ao Marcos Tenório e ao Victor Mendona Neiva e a Silvia Grando(brasileira que estuda em Havana)que me deram a maior força em toda a viagem, procedimentos e me acompanharam por todas as atividades por lá, inclusive as prazeirosas visitas aos centros históricos, Varadero, monumentos da Revolução e curtições musicais e apreciarmos deliciosa comida  cubana.

Voltei feliz a Brasilia e mais feliz ficarei em ir melhorando e voltar a Havana para concluir o tratamento e rever e conviver com o revolucionario, resoluto e feliz povo cubano.

quarta-feira, novembro 06, 2013

RUMO A HAVANA EM BUSCA DE MAIS SAÚDE E PROTESTAR CONTRA OS NORTE-AMERICANOS!!



Que lindo lugar, heim!!!

Aos amigos ainda não cientes, informo que dia 14 próximo, quinta feira de madrugada estaremos, eu, Marcos Tenório, do Cebrapaz/DF, o combativo advogado Victor Mendonça Neira, a comunista revolucionaria ex-deputada e presidente do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes e outros  companheiros de luta pela Paz, indo para Havana, Cuba, onde participaremos de um ato internacionalista contra a Base Militar/Prisão americana de Guantânamo, incrustrada a força há quase 100 anos em pleno território cubano. Queremos a desativação da base e a devolução do seu território a quem de direito, o povo cubano.Milhares de manifestantes de todo o mundo estarão presentes nos dois ou tres dias de manifestações. Vamos enfrentar de frente o "Tigre de Papel".

E a proveitando a viagem e com a gentileza e solidariedade do povo, do governo e do PC Cubano, vou aproveitar para fazer exames e procedimentos médicos na Clinica Neurológica de Havana, considerada uma das melhores do Mundo e exames oftalmológicos. Vou tentar tratamento que  possa me livrar das sequelas da "mieliopatia cervical compressiva" que me paralizou quase totalmente e exigiu de mim dois anos de internammento no Hospital SARAH, de Brasilia e mais um ano e meio de hospital dia e tratamento até poucas semanas atrás. Só que o SARAH esgotou as possibilidades de me livrar das sequelas que atrofiam minhas mãos, interferem no meu equilibrio e me impedem de andar sem ajuda de um "andador".

Tô confiante que tratamentos  desenvolvidos na ilha caribenha e com seu próprios avanços tecnológicos na àrea de "células tronco" e "aplicações de ozônio", eu possa voltar tinindo ou pelo menos bem melhor do que estou atualmente. Na volta de lá, relato  aos amigos a viagem, os protestos, o tratamento e a convivencia com aquele povo simpático, solidario e belo. Espero ainda lá, dançar "Rumba", "Salsa", "Tcha,Tcha Tcha" e o que vier pela frente com aquelas belas morenas cubanas que encantam o Mundo. Ate Lá!!!!

segunda-feira, novembro 04, 2013

A RUA E O PODER


Para historiador, protestos carregam uma frágil força: conquistam multidões, mas sem diretrizes políticas duradoura.

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Mais uma vez, a voz das ruas. Ecos talvez das jornadas de junho, manifestações vibrantes voltaram a ocupar São Paulo. Dessa vez, na estrada federal: com multidões furiosas, caminhões incendiados e barricadas nos arredores da Rodovia Fernão Dias, zona norte, onde o estudante Douglas Martins Rodrigues, de 17 anos, morreu com um tiro disparado por um policial militar no domingo passado.


Perry Anderson, historiador e ensaísta político britânico






“As manifestações de junho marcaram o despertar político de uma nova geração. Mas outro levante popular, ainda maior, não pode ser descartado neste momento.” O alerta é do historiador britânico Perry Anderson, professor da Universidade da Califórnia, ex-editor da New Left Review, ensaísta e autor de Espectro: Da Direita à Esquerda no Mundo das Ideias (Boitempo), entre outros.

Aos 75 anos, Perry Anderson vive entre Londres e Los Angeles, mas dedica um inspirado olhar à América Latina e ao Brasil. Cá esteve para participar do Fronteiras do Pensamento em outubro, em Porto Alegre. No primeiro encontro, a impressão: um gênio difícil, dir-se-ia. Um dos mais importantes teóricos marxistas contemporâneos, o intelectual não é fã de entrevistas, escolhe suas palavras meticulosamente, voz firme, óculos quadrados e anotações datilografadas a tiracolo.

O historiador também passou por Campinas e São Paulo, onde nos reencontramos para um café filosófico nos Jardins. “Não gosto de dar entrevistas, particularmente. Todo mundo dá entrevistas atualmente, é muito fácil. É a síndrome de Andy Warhol: todos serão famosos por 15 minutos. Por isso, penso que só se deve falar quando realmente tiver algo a dizer”, justifica. Nesta entrevista exclusiva ao Aliás, Perry Anderson comenta os rumos do Brasil e do mundo em tempos de explosivos protestos populares.

Domingo passado, um jovem foi morto por um PM na Vila Medeiros, zona norte de São Paulo, provocando protestos violentos que travaram a Fernão Dias. Dilma Rousseff criticou a violência contra jovens negros da periferia, ‘a manifestação mais forte da desigualdade no Brasil’, nas palavras da presidente. Como o sr. analisa o poder (ou a fragilidade) das manifestações nas ruas desde as jornadas de junho no País?

Três grandes conquistas vieram com os protestos de junho. Primeiro, as manifestações marcaram o despertar político de uma nova geração - principalmente, mas não exclusivamente, dos jovens, dos trabalhadores oprimidos. Segundo, ao forçar espetacularmente governantes a recuar no aumento das tarifas de transporte público em grandes cidades, eles fizeram surgir uma compreensão do empoderamento social (de dimensão potencialmente nacional) para setores até então passivos da população. Por último, e não menos importante, levantaram a questão da distribuição escandalosamente distorcida das despesas públicas no Brasil. O mérito para tudo isso vai para os movimentos de esquerda que alavancaram os protestos - o MPL principalmente -, cujo eco popular foi tão expressivo que mesmo forças de direita aderiram às manifestações, paut adas por seus próprios propósitos. Assim, a fragilidade dos protestos está nessa enorme disparidade: por um lado, o pequeno núcleo organizado que inspirou as revoltas de junho; por outro, a escala das multidões que tomaram parte nessas manifestações, sem liderança política ou infraestrutura duradoura. O futuro dependerá de até que ponto essa lacuna poderá ser fechada.

No artigo Lula’s Brazil, publicado na London Review of Books, o sr. destaca a especial ênfase do ex-presidente aos mais pobres. Além da inclusão com programas como o Bolsa Família, o Brasil viu uma forte onda de consumo com a ascensão de uma ‘nova classe média’. A questão toda é sobre poder aquisitivo? É possível proporcionar inclusão e justiça social de outras maneiras?

Certamente é possível - e milhões de brasileiros mostraram neste inverno que eles entendem totalmente como: através da criação de serviços públicos decentes e equitativos para os cidadãos comuns, sobretudo transporte urbano aceitável, assistência médica, habitação social e educação fundamental. A grande conquista do governo Lula foi a criação de empregos e a elevação do poder aquisitivo dos pobres. Esses foram ganhos dentro das relações do mercado. Mas sem avanços correspondentes nas esferas da vida em que as relações de commodities não deveriam ter lugar, o risco é realmente gerar uma sociedade de consumo em que, como nos Estados Unidos, aumentar a prosperidade não é, na verdade, empecilho para aumentar, ainda mais rapidamente, a desigualdade. No Brasil, que ainda continua perto do recorde mundial de má distribu ição de renda, só uma reforma radical da estrutura tributária, da administração pública e do sistema político pode frear esse perigo. É necessário um Estado que esteja verdadeiramente sob o controle de seus cidadãos, que seja capaz de oferecer serviços honestos, justos e construtivos para eles.

Mas esse Estado é possível?

Estrategicamente, a chave para a reforma precisa ser uma transformação do sistema político, cuja involução para uma ordem decadente e ensimesmada, afastada da vida popular do país, é agora amplamente reconhecida. Os beneficiários desse sistema - principalmente no Congresso, mas também nos poderes das cidades e dos Estados - não vão aceitar, por vontade própria, nenhuma mudança séria nessa ordem. Só a pressão popular pode forçá-los a fazê-lo. A convocação para uma Assembleia Constituinte é absolutamente correta, mas não pode ser instituída por um apelo presidencial que dependa da aprovação de uma classe política para a qual uma reforma pareceria uma tentativa de suicídio. Em Brasília, o Congresso apenas se renderia à fúria das massas nas ruas e nas praças. Isso é aceitável? As manifestações de junho vieram c omo um choque para a ordem estabelecida. Outro levante popular, talvez ainda maior, não pode ser descartado neste momento. Mas, para render frutos, uma alternativa construtiva para o atual impasse deve se firmar na imaginação popular. Disso ainda há pouco sinal.

Se fosse escrever um novo artigo, talvez Dilma’s Brazil, como seria? Dilma difere muito de Lula?

Em estilo, naturalmente difere de Lula. Nesse quesito, o dom do ex-presidente é inimitável. Em substância, há poucas diferenças. O que mudou não é nem a natureza nem as ambições da administração, mas as condições em que os dois operam. O crescimento no governo Lula foi impulsionado pelos altos preços de commodities na primeira década do século, que deram ao Brasil um considerável aumento do lucro das exportações. Esse momento passou - e o crescimento caiu. O novo governo tentou contrariar a conjuntura menos favorável ao reduzir as taxas de juros e introduzir modestas medidas protecionistas para estimular a economia. Mas o investimento - baixo há décadas no Brasil, segundo os padrões internacionais - falhou e os preços dos serviços começaram a subir. Isso estreitou o espaço econômico para manobra do governo justamen te no momento em que as demandas sociais começaram a explodir, especialmente entre setores jovens da população. Encurralado entre essas duas pressões, o projeto do PT, como moldado no governo Lula, periga se esgotar. É necessário um novo modelo. Se o projeto encontrará um segundo fôlego ainda é uma questão aberta.

Após décadas de neoliberalismo, vimos a ascensão de ‘novos’ governos na América Latina, ao mesmo tempo - Chávez na Venezuela, Kirchner na Argentina, Lula no Brasil. Nomes da esquerda também foram eleitos na Bolívia, Equador e Uruguai. Olhando para trás, as expectativas sobre esses ‘novos’ governos eram muito altas?

Não tenho certeza se concordo com esse retrato. Minha impressão é que a euforia exagerada sobre o grau de uma ruptura com o neoliberalismo no novo século não era tão comum - mesmo porque ficou claro para todos que as experiências sul-americanas que você mencionou estavam se movendo no contrafluxo, quer dizer, contra a tendência do mundo, pois América do Norte, Ásia e Europa estavam ainda alinhados ao neoliberalismo. Na América Latina, é justamente o movimento contrário - não à mais privatização, nem à maior desregulamentação, lidando ainda com uma desigualdade acentuada, mas com medidas de proteção nacional, preocupação com os pobres, defesa da esfera pública - que moldou o horizonte político do continente que, apesar de todas suas irregularidades, tornou-se um farol de esperança para os povos de outros lugares.

Na época, vimos o nascimento do Fórum Social Mundial, após os fortes protestos de Seattle. Nos últimos tempos, vimos o Occupy Wall Street, os indignados espanhóis e outros movimentos contra o capitalismo. A mensagem é similar: outro mundo é possível. Por que esses movimentos explodem, expõem as contradições do sistema capitalista e depois desaparecem?

Aliás, desaparecem? Explicações sobre os padrões dessas repentinas e imponentes explosões de protestos populares - que se iniciam e desaparecem rapidamente, ainda sem provocar muitas mudanças - precisam incluir três fatores principais. Obviamente, o primeiro é a ruptura da continuidade na cultura de esquerda com a vitória do capitalismo ocidental na Guerra Fria. O segundo é o declínio, no mundo inteiro, dos partidos como forma clássica de organização política, agravando essa ruptura de continuidade. E, certamente, o terceiro é o advento da internet, que permite uma comunicação e uma mobilização muito rápidas de muitos indivíduos de outra forma dispersos. Entretanto, precisamente por permitir esse sucesso tão rápido e relativamente tão fácil, nos momentos de crise, a internet acaba desencorajando o trabalho mais lento e mais difícil de criar movimentos políticos com estrutura e organização mais duradouras.

Como o sr. analisa a resposta do Brasil ao escândalo de espionagem americana?

O Brasil certamente se saiu melhor - e mais firmemente - que qualquer país europeu. Ao cancelar a visita oficial a Washington e criticar a espionagem americana no discurso nas Nações Unidas, Dilma Rousseff mostrou gestos de dignidade que nenhum outro líder foi capaz de mostrar. Mas esses gestos permanecem limitados. O grau contínuo de submissão do Brasil ao império americano pode ser visto, por exemplo, no fracasso do país ao (não) oferecer asilo a Edward Snowden, que revelou o esquema de espionagem e desde então está sendo perseguido pela índole vingativa característica de Barack Obama, cujo registro de punições domésticas ultrapassa o de George W. Bush. Podemos ter certeza de que Snowden teria encontrado um refúgio mais feliz no Brasil democrático que na Rússia autocrática. Não ter oferecido isso a Snowden é um motivo para desonra nacional.

Ainda assim, o governo do PT mostra mais independência na política internacional?

Certamente mais que os governos de José Sarney ou de Fernando Henrique Cardoso. Mas se formos justos, precisamos lembrar que nenhuma ação de Lula ou de Dilma, apesar de muitas terem sido positivas, foi tão destemida quanto a de um oligarca da República Velha, Artur Bernardes, que, em 1926, retirou o Brasil da Liga das Nações porque eles se recusaram a dar a qualquer país não europeu um assento permanente no conselho. Essa foi uma decisão de honra.

O sr. publicou um livro sobre a Índia - The Indian Ideology. A experiência desse país seria relevante para o Brasil?

Sim. Acredito que um estudo comparativo entre essas duas democracias - grandes países, mas ainda subdesenvolvidos em certa medida - seria de grande interesse. Deveria haver mais intercâmbio intelectual e político entre Brasil e Índia. Inclusive onde suas reformas sociais oferecem paralelos. É uma pena, pensei muitas vezes, que nunca tenha havido (até onde sei) uma troca de experiências entre seus respectivos programas para redução da pobreza: o Bolsa Família, no Brasil, e a Lei Nacional de Garantia de Emprego Rural, na Índia. Um, referente a uma transferência de dinheiro; outro, à disposição de trabalho. São os dois programas mais importantes nessa linha no mundo.

O sr. é considerado um especialista em história intelectual. Tem conselhos para estudantes nesse campo?

Nunca confunda julgamentos políticos e julgamentos intelectuais. A qualidade dos pensadores sérios nunca é uma simples função de seus pontos de vista ideológicos. Pensamentos - à direita, ao centro e à esquerda - devem ser tratados com cuidado analítico e respeito crítico iguais.

E atualmente qual é o papel dos intelectuais na sociedade?

Há uma ideia generalizada de que para ser um intelectual é preciso ser crítico da ordem estabelecida. Não é verdade. Desde o nascimento moderno do termo, possivelmente mais intelectuais têm sustentado os sistemas dominantes em suas sociedades. Assim, não há uma resposta única a sua questão. O papel dos intelectuais de direita é defender e ilustrar a ordem estabelecida. O papel dos intelectuais de centro é dar eufemismos e conformidade à ordem. O papel dos intelectuais da esquerda é atacá-la radicalmente. E nós precisamos de mais intelectuais assim. 

domingo, novembro 03, 2013

O papel da "Imprensa" e a luta de classes e de idéias!

Por Altamiro Borges*

Marx, Lênin e Gramsci, entre outros pensadores revolucionários, sempre destacaram o papel dos meios de comunicação. Exatamente por entenderem a importância da luta de idéias, do fator subjetivo na transformação da sociedade, fizeram questão de desmascarar o que chamavam, sem meias palavras, de “imprensa burguesa” e de realçar a necessidade da construção de veículos alternativos dos trabalhadores.

Estes dois elementos, a denúncia do caráter de classe da imprensa capitalista e a defesa dos instrumentos próprios dos explorados, são as marcas principais destes intelectuais marxistas. Marx, Lênin e Gramsci dedicaram enorme energia ao trabalho jornalístico, escrevendo centenas de artigos e ajudando a construir vários jornais democráticos e proletários. Foram jornalistas de mão-cheia, produzindo textos que entraram para a história. Sempre estiveram sintonizados com o seu tempo, pulsando a evolução da luta de classes; nunca se descuidaram da forma, da linguagem, para melhor difundir os seus conteúdos revolucionários. 

Defesa da liberdade de expressão 

Vítimas da violenta perseguição das classes dominantes, os revolucionários nunca toleraram a censura dos opressores e foram os maiores defensores da verdadeira liberdade de expressão. A própria ampliação da democracia foi decorrência das lutas dos trabalhadores, já que nunca interessou à reacionária burguesia. Mas os revolucionários nunca confundiram esta exigência democrática com a proclamada “liberdade de imprensa”, tão alardeada pela burguesia que controla os meios de produção e usa todos os recursos, legais e ilegais, ardilosos e cruéis, para castrar a própria democracia e o avanço das lutas emancipadoras. 

Numa fase ainda embrionária do movimento operário-socialista, Karl Marx logo se envolveu na atividade jornalística. Após concluir seu doutorado em filosofia, em 1841, ele pretendia seguir a carreira acadêmica e ingressar na Universidade de Bonn, mas a brutal repressão do governo prussiano inviabilizou tal projeto e o jovem filósofo alemão manteve seu sustento através do jornalismo. Em 1842, ingressou na equipe do jornal Gazeta Renana e virou o seu redator-chefe. Sob sua direção, este periódico democrático triplicou o número de assinantes e ganhou prestígio, mas durou poucos meses e foi fechado pela ditadura prussiana. 

Sem ilusões na imprensa burguesa 

Na seqüência, entre 1848/49, passou a escrever no jornal Nova Gazeta Renana, que se transformou numa trincheira de resistência ao regime autoritário. Em menos de dois anos, Marx escreveu mais de 500 textos e tornou-se um articulista de sucesso. O combate ao código de censura do governo prussiano resultou na proibição do jornal. Marx ainda escreveu para o Die Press e o New York Tribune sobre política, economia e história. “Era um jornalismo que revelava a minuciosa leitura de Marx, seu alto grau de informação não apenas sobre os fatos e conflitos, como também sobre os atores individuais e a própria imprensa”, relata José Onofre, na apresentação do livro recém-lançado “Karl Marx e a liberdade de imprensa”. 

Em sua defesa da liberdade de expressão, ele nunca vacilou na denúncia da ditadura burguesa. Para ele, o jornal deveria ser uma arma de combate à opressão e à exploração e não um veículo neutro. “A função da imprensa é ser o cão-de-guarda, o denunciador incansável dos opressores, o olho onipresente e a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúme sua liberdade”. Em outro texto, afirma: “O dever da imprensa é tomar a palavra em favor dos oprimidos a sua volta. O primeiro dever da imprensa é minar todas as bases do sistema político existente”. Por estas idéias libertárias, ele foi processado e perseguido. 

Poder do capital sobre a imprensa 

Outro que nunca se iludiu foi Vladimir Lênin. Atuando num período da ascensão revolucionária, ele foi ainda mais duro no combate aos jornais burgueses. Num texto intitulado “a liberdade de imprensa do capitalismo”, ele desnuda esta falácia. “A ‘liberdade de imprensa’ é também uma das principais palavras de ordem da ‘democracia pura’. Os operários sabem e os socialistas de todos os países reconheceram-no milhares de vezes que esta liberdade é um engano enquanto as melhores impressoras e os estoques de papel forem açambarcados pelos capitalistas, e enquanto subsistir o poder do capital sobre a imprensa”. 

“Com vista a conquistar a igualdade efetiva e a verdadeira democracia para os trabalhadores, é preciso começar por privar o capital da possibilidade de alugar escritores, de comprar editoriais e de subornar jornais, mas para isso é necessário destruir o jugo do capital... Os capitalistas chamam sempre ‘liberdade’ à liberdade para os ricos de manterem seus lucros e liberdade para os operários de morrerem à fome. Os capitalistas denominam de liberdade de imprensa a liberdade de suborno da imprensa pelos ricos, a liberdade de usar a riqueza para forjar e falsear a chamada opinião pública”. Nada mais atual! 

Numa outra fase histórica, em que o setor da comunicação ainda não era um poderoso ramo da economia, Lênin chegou a se contrapor à participação dos comunistas na imprensa burguesa. “Poder-se-á admitir que colaborem nos jornais burgueses? Não. A semelhante colaboração se opõe tanto as razões teóricas como a linha política e a prática da social-democracia... Dir-nos-ão que não há regra sem exceção. O que é indiscutível. Não se pode condenar o camarada que, vivendo no exílio, escreve num jornal qualquer. É por vezes difícil criticar um social-democrata que, para ganhar a vida, colabora numa seção secundária de um jornal burguês”. Mas, para ele, tais casos deveriam ser encarados como exceção e com princípios. 

“Boicote, boicote, boicote” 

Para encerrar este bloco, que evidencia que os marxistas nunca nutriram ilusões sobre o caráter de classe da imprensa burguesa e nem se embasbacaram com o seu poder de sedução, vale reproduzir uma longa citação de Antonio Gramsci, o revolucionário italiano de padeceu onze anos nos cárceres. No texto “Os jornais e os operários”, escrito em 1916, ele faz uma conclamação aos trabalhadores que bem poderia servir para uma campanha contra a revista Veja e outros veículos da mídia brasileira na atualidade: 

Para ele, a assinatura de jornal burguês “é uma escolha cheia de insídias e de perigos que deveria ser feita com consciência, com critério e depois de amadurecida reflexão. Antes de mais, o operário deve negar decididamente qualquer solidariedade com o jornal burguês. Deveria recordar-se sempre, sempre, sempre, que o jornal burguês (qualquer que seja sua cor) é um instrumento de luta movido por idéias e interesses que estão em contraste com os seus. Tudo o que se publica é constantemente influenciado por uma idéia: servir à classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora. E, de fato, da primeira à última linha, o jornal burguês sente e revela esta preocupação”. 

“Todos os dias, pois, sucede a este mesmo operário a possibilidade de poder constatar pessoalmente que os jornais burgueses apresentam os fatos, mesmo os mais simples, de modo a favorecer a classe burguesa e a política burguesa em prejuízo da política e da classe operária. Rebenta uma greve! Para o jornal burguês os operários nunca têm razão. Há uma manifestação! Os manifestantes, apenas porque são operários, são sempre tumultuosos e malfeitores. E não falemos daqueles casos em que o jornal burguês ou cala, ou deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público trabalhador. Apesar disso, a aquiescência culposa do operário em relação ao jornal burguês é sem limites”. 

“É preciso reagir contra ela e despertar o operário para a exata avaliação da realidade. É preciso dizer e repetir que a moeda atirada distraidamente é um projétil oferecido ao jornal burguês que o lançará depois, no momento oportuno, contra a massa operária. Se os operários se persuadirem desta elementar verdade, aprenderiam a boicotar a imprensa burguesa, em bloco e com a mesma disciplina com que a burguesia boicota os jornais operários, isto é, a imprensa socialista. Não contribuam com dinheiro para a imprensa burguesa que vos é adversária: eis qual deve ser o nosso grito de guerra neste momento, caracterizado pela campanha de assinatura de todos os jornais burgueses: Boicotem, boicotem, boicotem!”. 

Construtores da imprensa revolucionária 

Exatamente por não nutrirem ilusões na imprensa burguesa, Marx, Lênin e Gramsci sempre investiram na construção de instrumentos próprios das forças contrárias à lógica do capital. Segundo o biógrafo David Riazanov, “a Nova Gazeta Renana tratava de todas as questões importantes, de sorte que o jornal pode ser considerado um modelo de periódico revolucionário. Nenhum outro periódico russo nem europeu chegou à altura da Nova Gazeta... Seus artigos não perderam nada de sua atualidade, de seu ardor revolucionário, de sua agudeza na análise dos acontecimentos. Ao lê-los, sobretudo os de Marx, acreditamos assistir à história da revolução alemã e da revolução francesa, tão vivo é o estilo, como profundo é o sentido”. 

Já Lênin, que viveu numa fase de efervescência revolucionária, dedicou boa parte das suas energias para construção de jornais socialistas – dos mais diferentes tipos, sempre sintonizados com a evolução da luta de classes. Iskra, Vperiod, Pravda, Proletari, Rabotchaia Pravda, Nievskaia Svesdá, entre outros jornais organizados e dirigidos por ele, servirão para agregar as forças de esquerda, fazer agitação nas fábricas, aprofundar os debates ideológicos e construir o partido. Na sua mais célebre definição, Lênin sintetizou: 

“O jornal não é apenas um propagandista coletivo e um agitador coletivo. Ele é, também, um organizador coletivo. Neste último sentido, ele pode ser comparado com os andaimes que são levantados ao redor de um edifício em construção, que assinala os contornos, facilitam as relações entre os diferentes pedreiros, ajudam-lhes a distribuírem tarefas e a observar os resultados gerais alcançados pelo trabalho organizado”. A reacionária burguesia russa logo entendeu o perigo representado por estes jornais, tanto que os reprimiu ferozmente. No caso do Pravda, de um total de 270 edições, 110 foram objeto de ações judiciais e os seus redatores foram condenados a um total de 472 anos de prisão. Mas isto não abrandou o seu vigor! 

Atualidade das noções marxistas 

No caso de Gramsci, o longo período de cárcere dificultou a sua atividade jornalística e castrou seu desejo de organizar a imprensa operária. Antes da prisão, ele editou vários jornais de fábrica e empenhou-se na difusão do Ordine Nuovo. Na sua rica elaboração sobre o papel dos intelectuais e a luta pela hegemonia, ele chega a afirmar que, em momentos de crise, o jornal pode funcionar como partido político, ajudando a desnudar a ideologia dominante e a construir a ação contra-hegemônica do proletariado. Para ele, o momento da desconstrução do velho é, ao mesmo tempo, o da construção do novo. 

As contribuições de Gramsci servem para desmistificar o papel da mídia hoje, mantendo impressionante atualidade. Para ele, a imprensa burguesa é um “aparelho privado de hegemonia”, capaz de disputar os rumos da sociedade por meio de uma verdadeira guerra de posições em todas as “trincheiras ideológicas”. Através da imprensa privada e mercantil, que objetiva o lucro e que faz da notícia uma mera mercadoria, a burguesia tenta se aparentar como representante da esfera pública. Além disso, em momentos de crise da ideologia dominante e de fratura dos partidos burgueses, a imprensa se apresenta como “o partido do capital”, que organiza e amalgama os interesses das várias frações de classe da burguesia. 

*Altamiro Borges é secretário nacional de mídia do PCdoB