sábado, fevereiro 26, 2011

Aqui duas visões progressistas sobre a crise na Libia

Workers World: A Líbia e o imperialismo

De todas as lutas que agora decorrem no Norte de África e no Médio Oriente, a mais difícil de deslindar é aquela na Líbia. Qual é o caráter da oposição ao regime Kadafi, a qual consta que agora controla a cidade de Bengazi, no Leste do país?
Será apenas coincidência que a rebelião tenha começado em Bengazi, a qual é a norte dos mais ricos campos petrolíferos da Líbia bem como próxima da maior parte dos seus oleodutos e gasodutos, refinarias e o seu porto de gás natural liquefeito (GNL)? Haverá um plano de partição do país?

Qual é o risco de intervenção militar imperialista, a qual apresenta grave perigo para o povo de toda a região?

A Líbia não é como o Egito. Seu líder, Muamar el-Kadafi, não tem sido um fantoche imperialista como Hosni Mubarak. Durante muitos anos, Kadafi esteve aliado a países e movimentos que combatiam o imperialismo. Ao tomar o poder em 1969 através de um golpe militar, ele nacionalizou o petróleo da Líbia e utilizou grande parte do dinheiro para desenvolver a economia líbia. As condições de vida do povo melhoraram radicalmente.

Por isso, os imperialistas estavam determinados a deitar a Líbia abaixo. Os EUA em 1986 realmente lançaram ataques aéreos a Trípoli e Bengazi que mataram 60 pessoas, incluindo a filha de Kadafi, ainda uma criança – o que raramente é mencionado pelas mídias corporativas. Foram impostas sanções devastadoras tanto pelos EUA como pela ONU a fim de arruinar a economia líbia.

Depois de os EUA invadirem o Iraque em 2003 e arrasarem grande parte de Bagdá com uma campanha de bombardeio que o Pentágono exultantemente chamou "pavor e choque", Kadafi tentou evitar a ameaça de outra agressão à Líbia fazendo grandes concessões políticas e econômicas ao imperialismo. Ele abriu a economia a bancos e corporações estrangeiras; concordou com exigências do FMI quanto ao "ajustamento estrutural", privatizando muitas empresas estatais e cortando subsídios do estado a necessidades como alimentos e combustível.

O povo líbio está a sofrer dos mesmos preços elevados e desemprego que estão na base das rebeliões em outros lados e que decorre da crise econômica capitalista mundial.

Não pode haver dúvida de que a luta que varre o mundo árabe pela liberdade política e a justiça econômica também tocou um ponto sensível na Líbia. Não há dúvida de que o descontentamento com o regime Kadafi está a motivar uma seção significativa da população.

Contudo, é importante para os progressistas saberem que muitas das pessoas que estão a ser promovidas no Ocidente como líderes da oposição são há muito agentes do imperialismo. A BBC mostrou em 22 de fevereiro imagens de multidões em Bengazi deitando abaixo a bandeira verde da república e substituindo-a pela bandeira do antigo rei Idris – que foi um fantoche dos EUA e do imperialismo britânico.

As mídias ocidentais baseiam grande parte das suas reportagens sobre supostos fatos fornecidos pelos grupo exilado Frente Nacional para a Salvação da Líbia (National Front for the Salvation of Libya), a qual foi treinada e financiada pela CIA estadunidense. Pesquise no Google o nome da frente mais CIA e encontrará centenas de referências.

O Wall Street Journal de 23 de fevereiro escreveu em editorial que "Os EUA e a Europa deveriam ajudar os líbios a derrubarem o regime Kadafi". Não há qualquer conversa nas salas das administrações ou nos corredores de Washington acerca de intervir para ajudar o povo do Kuwait ou da Arábia Saudita ou do Bahrein a derrubarem seus governantes ditatoriais. Mesmo com todos os falsos elogios às lutas de massas que agora sacodem a região, isso seria impensável. Em relação ao Egito e à Tunísia, o imperialismo está a mover todas as alavancas que podem para tirar as massas das ruas.

Tão pouco houve qualquer conversa de intervenção dos EUA para ajudar o povo palestino de Gaza quando milhares morreram por serem bloqueados, bombardeados e invadidos por Israel. Exatamente o oposto. Os EUA intervieram para impedir a condenação do estado colonizador sionista.

O interesse do imperialismo na Líbia não é difícil de descobrir. Em 22 de fevereiro a Bloomberg.com escreveu: se bem que a Líbia seja o terceiro maior produtor de petróleo da África, é o país do continente que tem as maiores reservas provadas — 44,3 mil milhões de barris. É um país com uma população relativamente pequena mas com potencial para produzir enormes lucros para as companhias de petróleo gigantes. É assim que os super ricos a encaram e o que está por trás da sua apregoada preocupação com os direitos democráticos do povo da Líbia.

Obterem concessões de Kadafi não é suficiente para os barões imperialistas do petróleo. Eles querem um governo sob a sua dominação total, tudo do bom e do melhor. Eles nunca esqueceram Kadafi por derrubar a monarquia e nacionalizar o petróleo. Fidel Castro, em Cuba, na sua coluna "Reflexões", registra o apetite do imperialismo por petróleo e adverte que os EUA estão a lançar as bases para uma intervenção militar na Líbia.

Nos EUA, algumas forças tentam mobilizar uma campanha a nível de rua promovendo uma tal intervenção estadunidense. Deveríamos opor-nos a isto totalmente e recordar a qualquer pessoa bem intencionada os milhões de mortos e deslocados pela intervenção dos EUA no Iraque.

Os progressistas têm simpatia com o que encaram como um movimento popular na Líbia. Podemos ajudar tal movimento principalmente pelo apoio às suas exigências justas mas rejeitando uma intervenção imperialista, seja qual for a forma que assuma. É o povo da Líbia que deve decidir o seu futuro.

Fonte: Workers World. Tradução do Resistir.Info

AQUI A POSIÇÃO DE JOELSON MEIRA:

GADDAFI E AS LIÇÕES DA DEMOCRACIA


A sociedade humana produz inteligência política e pilares de organização da convivência entre pessoas e nações. Mas produz , também, anacronismos e distorções ao longo das experiências na governança dos negócios públicos.

Há 42 anos no poder , acumulando bilhões de dinheiro roubado da sociedade Líbia, agora vem à tona o poder financeiro da família de Gaddafi , em investimentos em vários setores da economia, na Suiça e principalmente em Londres.

Notícias dão conta de investimentos atá na Bahia , mais precisamente em Juazeiro.
Enquanto a família do ditador Líbio espalha fortuna pelo mundo, o povo é fuzilado nas ruas de Benghazi e protesta pelo fim do anacrônico e agonizante regime.

Este episódio deplorável acende a luz amarela das democracias , ainda que de caráter ideológico burguês, porquanto o germe da corrupção que degenera os governos, está presente em todos os aparatos estatais, numa conspiração silenciosa dos que se supõem acima da outorga concedida pelos cidadãos e cidadãs, outorga esta que tem o fim específico de administrar os negócios públicos. Repetindo: públicos !

Quais as lições que devemos absorver dos acontecimentos na Líb ia ? Seguramente, a primeira delas é a confirmação da submissão do homem público às normas de conduta ética, moral e legal , sem as quais os governantes se acham acima do bem e do mal , semi-deuses que acreditam na manipulação das vidas das pessoas, impunemente.

Alheios ao sistema de freios e contra-pesos, tais governantes ( e Ghaddafi é o maior exemplo ) encastelam-se ao lado de figuras imprestáveis, bajuladoras medíocres e pequenas , vão se distanciando do povo , confundem a coisa pública como patrimônio familiar , abandonam os amigos da revolução que os colocaram no poder, encantam-se com os jatinhos , resorts e hotéis de luxo, jovens prostitutas , carros de última geração, restaurantes sofisticados ( muitos de culinária duvidosa ) sem percerberem que um profundo silêncio, uma grande conspiração , um ódio inapag ável, uma resposta retumbante vão sendo forjados ao seu redor , resultando em profunda revolta como aquela que presenciamos na Líbia.

Aqui no Brasil , estamos longe destes acontecimentos mas a ciência política é uma só e serve para qualquer lugar. Em Valença , os supermercados do Prefeito Ramiro foram saqueados numa resposta espontânea da comunidade em face da insegurança e descaso daquele gestor . Na Líbia , o ditador Gaddafi foi sitiado num bunker, enquanto a população ocupa as ruas das cidades esperando o fim do regime .

Tais figuras, manipuladoras das consciências , estão em fase de extinção. Ao final dos governos , os sinais exteriores de riqueza vão produzindo os bloqueios e sequestros de bens . Ministr os e Embaixadores já abandonaram o barco e se juntaram ao povo revoltado. Os laranjas utilizados , sem compromissos com qualquer princípio, vão denunciando o ditador , como acontece , agora , em Londres . As famílias, que pareciam viver numa zona de luxo e conforto, entram em pânico com a possibilidade da execração pública, prenunciando o fim das dinastias de forma melancólica , triste e solitária.

A Líbia está há milhares de quilometros do Brasil mas a revolta das urnas , em nosso sistema político , é a lição que todos nós, políticos e governantes , devemos entender como alerta das massas globalizadas.

Joelson Meira
Secretário de Articulação com a União
Camaçari/BA

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